Eliézer Moreira e a Colônia Agrícola Nacional do Maranhão em Barra do Corda

ELIÉZER RODRIGUES MOREIRA nasceu em 22 de fevereiro de 1898, em Santa Quitéria, à época um povoado pertencente ao município de Brejo/MA. Estudou Agronomia em Piracicaba/SP, onde também concluiu o curso na Escola Superior de Agronomia e Medicina Veterinária.

Foi um dos fundadores, a 1º de março de 1924, da Escola Superior de Agricultura do Maranhão, sendo logo nomeado diretor do Aprendizado e da Escola. Ainda em 1924, é nomeado Auxiliar-Técnico do Serviço do Algodão no Maranhão. Em 1927, nomeado pelo Ministério da Cultura para administrar a fazenda de Sementes de Algodão em Teresina/PI[1]. Em 1932 fez curso de especialização a cargo da Seção Técnica do Serviço do Algodão.

Eleito Deputado Federal, pelo Partido Republicano do Maranhão (PR), para a Legislatura 1935–1939, não concluiu o mandato em decorrência do golpe de Estado de Getúlio Vargas, em 1937, dando início ao Estado-Novo. Com a deposição, em 1936, do governador Aquiles Lisboa, abandonou as hostes governistas e pôs-se ao lado das oposições coligadas.

Foi diretor do Serviço de Plantas Têxteis e presidiu, em 1954, a comissão do Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC) que realizou estudos para o aproveitamento econômico da região do Guamá, nas proximidades de Belém, no Pará, objetivando a fixação de imigrantes[2].

No Rio de Janeiro, na década de 1960, foi membro do Conselho Regional do Serviço Social Rural (CRSSR), onde trabalhou com programas de desenvolvimento de comunidades rurais em vários municípios do país. Juntamente com outros líderes rurais brasileiros, viajou aos Estados Unidos, Porto Rico e Jamaica, em visita a entidades e organismos das mais variadas regiões, adquirindo relevante experiência.Foi Técnico da Divisão de Fomento da Produção Vegetal, e, no Departamento Nacional de Obras e Saneamento do Rio de Janeiro, trabalhou na recuperação de áreas inutilizadas pelas enchentes.

Em 1963, foi eleito membro da Comissão Fiscal da Confederação Rural Brasileira. Em 1965, o Presidente da República Marechal Castelo Branco o nomeou membro do Conselho Deliberativo do Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS); ainda na década de 60, como membro da Confederação Nacional de Agricultura, compôs a Comissão de Regulamentação do novo Código Florestal, aprovado pela Lei 4.771, de 15 de setembro de 1965.

Faleceu o Dr. Eliézer Moreira no Rio de Janeiro em 1972, aos 73 anos de idade.



A Colônia Agrícola Nacional em Barra do Corda e o ressurgimento econômico dos sertões maranhenses

“Convidado pelo Ministro da Agricultura de Getúlio Vargas, Dr. Apolônio Sales, aceitou a incumbência de instalar e dirigir a Colônia Agrícola Nacional do Maranhão, sediada em Barra do Corda, onde com pequeno interregno, 1951/1952, a administrou de 1942 a 1956, por 14 anos”[3].

O Núcleo Colonial de Barra do Corda teve como finalidade promover a colonização e com esta o fomento da produção agrícola e o amparo aos colonos.
Em julho de 1943, em viagem ao Rio de Janeiro, o Dr. Eliézer Moreira prestou esclarecimentos ao Serviço de Informação Agrícola sobre o andamento dos trabalhos de instalação da Colônia em Barra do Corda. De suas declarações extraímos o seguinte trecho:

“O alcance social e econômico de uma colônia agrícola, num centro inteiramente isolado como é a imensa região de confluência dos rios Mearim e Corda, a uma distância de 700 quilômetros da capital maranhense[4], é de uma importância vital para o ressurgimento do nosso “hinterland”; fixará o homem à terra, estabelecerá a pequena propriedade rural e oferecerá assistência médica, dentária, escolar e econômica – aos nossos patrícios que até aqui vinham lutando, desajudados e heroicos, nos nossos longínquos sertões. Isto posto, desejo adiantar que a Colônia Agrícola, cujos trabalhos de instalação demos início em março último, abrange uma faixa de 60 quilômetros à margem do rio Mearim, até ali navegado apenas por pequenas embarcações. Entretanto, o Departamento de Portos e Navegação está, no momento, utilizando uma draga com o fim de facilitar o trânsito de barcos maiores.
Neste momento, são os seguintes os principais trabalhos em curso na Colônia: conclusão da demarcação do primeiro grupo de 120 lotes, com dimensões entre 30 e 40 hectares, nos quais serão instaladas, até o fim deste mês, 120 famílias de sertanejos, escolhidas entre as mais numerosas, tradicionalmente ordeiras e trabalhadoras; início da construção de 120 casas definitivas, confortáveis e higiênicas, para residência dos colonos – para cujos trabalhos já temos oficinas mecânicas, cerâmica e serraria; construção de estradas internas e de acesso à concessão, a fim de ligá-la à estrada tronco do Estado, no município de Coroatá e à Estrada de Ferro São Luís–Teresina e obras de instalação de pontes definitivas sobre os rios Mearim e Corda”[5].

Nesta mesma ocasião, salientou ainda a cooperação da parte do Interventor do Maranhão, Sr. Paulo Ramos, para os melhoramentos da região e instalação da Colônia em Barra do Corda, determinando a realização de diversas obras, como a criação de escolas, construção do porto fluvial no Mearim, fundação de uma circunscrição médica e outra militar, construção do mercado de Barra do Corda, que seria o centro coletor de excelentes produtos regionais, constantes principalmente de borracha de mangabeira, algodão, oleaginosas, cereais, fibras testeis, etc.

Em 1945, o relatório apresentado pelo Dr. Eliézer Moreira, relativo aos dois primeiros anos de sua administração, mereceu apreciação favorável por parte da cúpulado Ministério da Agricultura. O jornal “A Noite”, do Rio de Janeiro, de 27 de maio de 1945, assim o registra:

“A administração da Colônia Agrícola Nacional do Maranhão conseguiu, com o apoio do governo estadual, demarcar 522 lotes e localizar 489 famílias de colonos (2.659 pessoas). O trabalho realizado compreendeu ainda o levantamento inicial de 37 residências definitivas, a construção de 100 quilômetros de caminhos de serviços e 30 de estradas de acesso, a instalação de uma usina de beneficiamento de arroz e milho, de uma serraria e de uma oficina mecânica.
Os campos de sementes da sede da Colônia abrangem 109 hectares e a área cultivada, ali, já ultrapassa a 870 hectares, tendo a produção dos colonos alcançado 570 mil quilos de arroz, 450 mil quilos de milho, 65 mil quilos de feijão, 80 mil quilos de algodão, 600 mil quilos de mandioca e 400 mil quilos de cana de açúcar. Para o transporte fluvial dispõe o estabelecimento de quatro batelões, uma lancha e um motor de popa.
Dado o elevado índice de doenças na região, principalmente a malária e o tracoma, instalou-se o serviço de assistência médico-cirúrgica e sanitária para os colonos, servidores e respectivas famílias. Foram atendidas 940 pessoas na clínica médica, 90 na clínica cirúrgica, 1.830 para curativos, 3.550 para injeções, 120 nos domicílios e 790 para inspeção médica. Preocupa-se também o serviço de saúde com a assistência pré-natal. A farmácia e o gabinete dentário serão instalados dentro em breve. Como é igualmente elevada a percentagem de analfabetos, foram, de início, organizadas duas escolas rurais, com a frequência de 160 alunos”.

Convém assinalar que a concessão da Colônia compreendia uma vasta área de 450 mil hectares, segundo o mesmo relatório, dos quais apenas 330 mil hectares foram efetivamente utilizados.


“Transformou radicalmente Barra do Corda”

Esta foi a declaração à imprensa de São Luís do prefeito municipal Raimundo Ferreira Lima, em 1949, referindo-se à Colônia Agrícola instalada neste município, sob a administração do agrônomo Dr. Eliézer Moreira.
Galeno Edgar Brandes, no seu “Barra do Corda na História do Maranhão”, p. 196, também alude à Colônia e o que representou para Barra do Corda o seu advento:

“Faça-se justiça: A Colônia Agrícola Nacional do Maranhão em Barra do Corda deixou um respeitável saldo positivo no desenvolvimento social, econômico e cultural do povo, em que pese o atraso com que chegaram ao empreendimento os grandes vetores desenvolvimentistas da energia, do crédito e do meio de transporte, ainda não definidos a contento”.

O alto critério administrativo e a incontestável competência funcional com que trabalhou o Dr. Eliézer em Barra do Corda mereceu o elogio dos órgãos de inspeção do Ministério da Agricultura, que a consideraram como Colônia-modelo, tal o seu conjunto de realizações. Foi sob a administração da Colônia, por exemplo, que foram construídas as pontes de concreto armado sobre os rios Corda e Mearim, existentes até hoje e que permitiram a expansão da cidade para além do núcleo urbano original. Também a iniciativa de se instalar a Hidrelétrica do rio Corda, na Cachoeira Grande, foi promovida pelo Dr. Eliézer Moreira. O objetivo era fornecer energia e força para Barra do Corda e, possivelmente, para alguns municípios próximos. Teria a usina 3 geradores acionados por turbinas com 515 kVA, cada. Os trabalhos foram iniciados em 1953 e interrompidos em vias de conclusão por questões políticas que não vale a pena aquilatar. Esperava-se que as obras fossem retomadas em 1958, o que nunca se deu. Eliézer Moreira Filho, reportando-se a este fato lamentável, comentou:

“Barra do Corda perdeu a primazia de ter sua hidrelétrica, que seria a primeira do Maranhão a gerar energia para as necessidades do Maranhão, e só receberia energia firme muitos anos após, perdendo a preciosa oportunidade de antecipar, em muitas décadas, seu processo de desenvolvimento”[6].








[1] O Imparcial, RJ, 1º.jan.1928
[2] Diário de Notícias, RJ, 2.set.1954
[3] FILHO, Eliézer Moreira. Memórias de Meu Tempo. São Luís: UNICEUMA, 2008, p. 208
[4] Por via fluvial
[5] A Noite, RJ, 13.jul.1943; Diário da Noite, RJ, 16.ago.1943
[6] FILHO, Eliézer Moreira. Memórias de Meu Tempo. São Luís: UNICEUMA, 2008, p. 127

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