O dia em que Frederico Figueira e Artur Azevedo foram parar na prisão
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Frederico Figueira |
Você
certamente já ouviu falar em Frederico Figueira, nome dado a uma escola e a uma
das principais ruas do centro de Barra do Corda. Daí, já se pode ter uma base
do quanto ele deve ter representado para o desenvolvimento da nossa cidade.
Sim, foi ele um dos nossos pioneiros, aquele que escreveu grande parte da nossa
história pregressa, lutando pelos anseios e liberdades do povo sertanejo, seja nos
palanques, na imprensa ou no parlamento, conquistando assim um nome indelevelmente
impresso na história não só de Barra do Corda, mas do Maranhão e além.
O
episódio que dá título ao presente texto não tem, como se pode presumir, um caráter
iconoclástico, senão pelo simples registro de uma parte da sua história pouco
conhecida e que nos revela um Frederico Figueira impetuoso – hormônios à flor
da pele – que um dia brincou, amou e que, como qualquer jovem “normal” que se
preze, aprontou as suas e sofreu consequências por deixar aflorar demasiadamente
os seus impulsos.
Antes,
porém, de entrarmos neste assunto, convém traçarmos algumas linhas sobre o
nosso personagem. Frederico Pereira de Sá Figueira nasceu em Picos, atual município
de Colinas[1], no Maranhão, em 10 de
dezembro de 1849. Filho do Maj. Francisco Joaquim da Costa Figueira, antigo
chefe político no Brasil Império, cursou as primeiras letras em Caxias – MA,
onde, em 1860, chegou a conhecer o poeta Gonçalves Dias. No dia 7 de fevereiro
de 1881, tomou posse como vereador da Câmara Municipal de Barra do Corda. Em
1884, ascende à Promotoria Pública, cargo que exerceu até 1888. Em 1890, é
nomeado para compor a primeira Junta de Intendência de Barra do Corda.
Advogado, fecundo jornalista e defensor acérrimo dos ideais democráticos,
funda, em 12 de novembro de 1888, juntamente com Isaac Martins, Antônio da
Rocha Lima e Dunshee de Abranches, o jornal “O Norte”, do qual foi
redator-chefe, assumindo posteriormente a sua direção. Também foi colaborador
da revista “Ateneida” e do jornal “Pacotilha”, em cujas colunas expunha artigos
sobre interesses sertanejos e literatura em geral. Eleito Deputado Estadual em
1910, ao investir-se do mandato, foi logo escolhido para presidente do Congresso
Legislativo do Maranhão, ao mesmo tempo assumindo, interinamente (ainda que em
caráter provisório), no dia 5 de fevereiro de 1910, o exercício do cargo de
Governador do Estado, passando-o, no dia 1º de março do mesmo ano, ao
governador eleito, Dr. Luís Domingues. Este, tendo de ausentar-se do governo
por motivo de enfermidade, entregou-o, no dia 20 de maio de 1912, ao seu
substituto legal, Frederico Figueira, reeleito à presidência do Congresso
Legislativo, que ficou no poder até o dia 16 de agosto daquele ano. Deputado
Estadual por várias legislaturas, foi por várias vezes presidente da Assembleia
Legislativa do Estado. De sua bibliografia destacamos: “A Instrução no Sertão”
e “As Belezas do meu Sertão”. Faleceu em Barra do Corda, no dia 8 de julho de
1924.
Pois
bem, agora vamos ao incidente. Sabe-se que, entre 1868 e 1870, Frederico
Figueira residia em São Luís, onde trabalhou como caixeiro da casa comercial
Manoel Ferreira Campos & Cia, tempo em que privou da amizade de Artur
Azevedo, irmão do célebre romancista Aluísio Azevedo e que despontaria mais
tarde como um dos maiores dramaturgos brasileiros e um dos fundadores da
Academia Brasileira de Letras. Certo é que se tornaram amigos inseparáveis,
sempre em palestras amistosas e passeios habituais.
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Artur Azevedo (1855-1908), grande amigo de
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Contam
os jornais que, em 1870, Frederico e Artur Azevedo, empregado também na mesma
casa comercial, envolveram-se numa ruidosa arruaça entre estudantes e
caixeiros, partidários, respectivamente, de Pope e de Adèle, atrizes francesas
que, numa companhia de operetas, então fizeram época em São Luís. Os caixeiros
exaltavam Adèle por sua graça e talento, os estudantes, por sua vez, aclamavam
Pope; cada facção tratava também de rebaixar a rival, desqualificando-a. As
atrizes se divertiam com essas disputas. A situação, porém, foi ficando fora de
controle, resultando em apupos e agressões físicas. Artur e Frederico, que
encabeçavam o grupo dos caixeiros, foram parar na cadeia, para escândalo das
famílias maranhenses. E, como se não bastasse, o patrão de ambos, o comerciante
português Manoel Ferreira Campos, tirou-lhes das mãos a insígnia simbólica –
feira de madeira e piaçaba – das funções que eles exerciam no seu armazém[2].
É
provável que somente em 1873, Frederico Figueira tenha deixado a capital maranhense,
posto que neste ano transferira-se Arthur Azevedo para o Rio de Janeiro e pela
primeira vez o nome de Frederico Figueira aparecerá nos registros da vida
pública da vila de Barra do Corda, então como suplente de vereador, para o
quatriênio 1873 a 1877.
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Adèle Isaac (1854-1915), por causa de quem Frederico Figueira e ArturAzevedo se envolveram numa arruaça e acabaram presos. |
[1]Alguns há que
sustentam que o seu nascimento ocorreu no município vizinho de Passagem Franca,
do que discorda o historiador Mário M. Meireles que em seu “Panorama da
Literatura Maranhense”, publicado em 1955, defende Colinas, antiga Picos, como
lugar de seu nascimento, assim como o poeta e escritor bacabalense Felix Aires
(1904-1979) que, num seu poema, publicado em “O Imparcial”, de 6 de junho de
1930, intitulado “Picos”, a chama de “berço do jornalista cintilante/Frederico
Figueira”.
[2] Jornal do
Comercio, RJ, 11.abr.1937
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