Antônio de Oliveira - Um barra-cordense a ser reivindicado
“Ontem foi Newton Sá
que para aqui veio, guiado por mão caridosa, hoje é Antônio de Oliveira,
pobrezinho também, inclinado também para subir às regiões sublimes da arte, que
está a merecer as vistas do governo e de todos os maranhenses em cujo peito ainda brilha uma centelha e são patriotismo, de todos aqueles que desejarem a
restauração de Atenas”
(Folha do Povo, 7/12/1925)
Antônio de Oliveira (1911-2003) |
Embora não se tenha afastado das “regiões sublimes da arte”,
sua realização estética acabaria por eleger a literatura – mais especificamente
a poesia e a ensaística – em contraposição à vertente escultórica.
De condição humilde, órfão de
pai, aprenderá por conta própria as primeiras letras, continuando os estudos
com um mestre-escola do interior. Fez o preparatório no Centro Caixeiral e,
depois, no Liceu Maranhense, quando já residia no Anil, onde, segundo lembra
Jomar Moraes, “fez estas três grandes descobertas: a Bíblia, Camilo Castelo
Branco e o companheiro de leitura – Josué Montello, ao lado de quem integrou o
grupo de alunos diletos de Antônio Lopes”. Acrescenta Jomar que ainda
“participou do Cenáculo Graça Aranha, do Centro Maranhense de Artes e Letras e
do movimento “Renovação”, que, de 1º.4.1942 a 7.4.1945, manteve o suplemento
cultural Ressurgimento, no Correio da Tarde”.
Clóvis Ramos, que irá incluí-lo em “Onde canta o sabiá”,
identifica-o esteticamente entre os chamados “neo-simbolistas” ou “simbolistas
retardatários”, ao lado de Eyder Pestana, Antônio Vasconcelos, Lucano dos Reis,
Viana Guará e Almeida Galhardo, não obstante concluir que, a partir de “O carro
de Dona Ana Jansen”, Antônio de Oliveira “se transferiu para o modernismo”. Pertenceu
à Academia Maranhense de Letras e foi seu delegado junto à Federação das
Academias de Letras do Brasil.
Dedicando-se sobretudo à ensaística, muito fez para difundir a obra do poeta conterrâneo Maranhão Sobrinho, de quem era devotado admirador e sobre quem escreveu importantes trabalhos, entre os quais destacam-se: “A Arte de Emendar em Maranhão Sobrinho”, “Maranhão Sobrinho, Poeta Injustiçado” e “Maranhão Sobrinho, o Poeta das Rosas”. Muito do que hoje se sabe sobre o autor de “Papéis Velhos”, devemo-lo à laboriosa pesquisa de Antônio de Oliveira.
Faleceu em Niterói/RJ, a 26 de junho de 2003.
Trabalhos publicados:
“Maranhão Sobrinho –
Notas Biobibliográficas” – Rio, 1976;
“Camilo no Maranhão e outros ensaios” – S. Luís, 1980.
Quem me dera juntar todas as
dores
Deste vale de lágrimas impuro,
Como um pária que encontra num
monturo
Um punhado de joias ou de
flores...
Que me trouxeste as mágoas
padecidas
Por um milhão de poetas e de
heróis,
Para eu dar o calor dos arrebóis
Às geleiras polares dessas vidas!
Se eu conseguisse o pranto
derramado
Por todos os mortais desiludidos,
Por esses “humilhados e
ofendidos”
Que a Sibéria da vida tem pisado;
Se todo o horror de um
eletrocutado,
Dos que morrem nas forcas e na
guerra,
Me fosse dado conseguir, – na
terra
Eu seria o maior afortunado!
(Da
“Pacotilha”, S. Luís, 7/7/1938)
MARINHA
Sob o céu todo azul de turquesa
molhada,
O mar freme e soluça. Ondas
calmas, serenas
Ouvem-se, no ar parado e limpo,
sons de avenas,
De guitarra amorosa e flauta
apaixonada.
Passa um barco, de longe, a vela
desfraldada,
Deixando no ar sutil, leve rumor
de penas.
E abertas sobre o mar, agitam-se
as antenas
Das asas de uma garça esbelta e
descuidada.
O sol, medalha de ouro, imerge,
pouco a pouco,
Na água rumorejante onde distingo
apenas
O barulho do barco, a esbater,
num som rouco.
Escurece. Ainda vejo a sombra de
uma ilhota,
Mas fica-me a ilusão desse rumor
de penas
Da asa branca da garça e dum voo
de gaivota...
(Da “Pacotilha”, S. Luís,
18/7/1938)
OLHOS
Olhos de virgens, claros,
sedutores,
Que enlouqueceis os pobres
namorados,
Meigos olhos divinos, sonhadores,
Que prometeis carícias e pecados!
Olhos azuis que despertais
amores!
Negros olhos formosos, cobiçados!
Olhos castanhos, vivos,
tentadores,
Que trazeis os mortais
acorrentados!
Olhos da Mãe de Deus, olhos
tristonhos!
Lânguidos olhos bêbados de
sonhos,
Olhos de Madalena, olhos escuros!
Olhos de minha mãe, olhos
benditos,
Perolados de pranto, olhos
aflitos,
Sois os olhos mais lindos e mais
puros!
(Do livro: “Onde Canta o Sabiá” –
Rio, 1972)
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