A COLUNA PRESTES NO SUJAPÉ

       A Coluna Prestes foi o mais importante dos movimentos militares ocorridos no Brasil durante a segunda década do século XX, contribuindo para a desestruturação da República Velha, que culminaria com a “Revolução de 1930”. No Maranhão, a “Marcha Invicta” viveu seus melhores momentos, pelo menos com relação à receptividade por parte das vilas e cidades por onde passou. Isto em decorrência, sobretudo, do abandono com o qual o Governo do Estado sempre tratou o sul maranhense.

A posição geograficamente privilegiada de Barra do Corda atraía a atenção dos revolucionários que ambicionavam estabelecer nela uma base fixa a partir da qual conquistariam o Estado. Contra ela investiram, mas as forças da milícia estadual e do Exército os repeliram. No entanto, registra-se que cerca de 250 homens em todo o Estado incorporaram-se aos revoltosos, arregimentados por dois fazendeiros: Manoel Bernardino e Euclides Neiva.

A população interiorana, composta por um grande número de analfabetos, ignorando os acontecimentos que se processavam no resto do país, acreditava ser a Coluna uma horda de desordeiros, estupradores e assassinos. Assim foi quando de sua passagem, em novembro de 1925, pelo povoado Sujapé, a doze quilômetros de Barra do Corda.

Aquela pacata população foi alvoroçada com a notícia da proximidade dos revoltosos. Houve pânico por parte dos que ignoravam os reais interesses dos invasores. Muitos abandonaram suas lavouras, seu comércio e suas casas. Atravessaram o rio Corda levando consigo alguns pertences, os mais valiosos, os quais eram cuidadosamente escondidos ou até mesmo enterrados. Muitos se esconderam nas brenhas, em lugares quase inacessíveis, temendo por suas vidas e a de seus filhos. Assim aconteceu à dona Maria Luiza Pinto, no curso do nono mês de gestação.

Manoel Bernardino de Oliveira
O Lênin do Maranhão
imagem extraída de "O Jornal", MA, 30.10.1921

Ao tomar conhecimento da chegada iminente daqueles homens barbudos, montados a cavalos, armados e carentes de banho e roupa limpa, dona Maria Luiza Pinto sentiu as primeiras contrações. Com medo de que os insurretos pudessem ameaçar a sua segurança e a do bebê, embrenhou-se mata adentro. Lá mesmo, sob as mais duras condições, deu à luz o pequeno Raimundo que, por conta do ocorrido, é chamado até hoje de Raimundo “Capoeira”.

Alguns jovens do povoado aderiram à Coluna, entre os quais Deoclides e Cristino, filhos de Manoel Gomes da Silva. Conta-se que Cristino fora perseguido inúmeras vezes pelas forças Legalistas, sendo enfim preso nas proximidades de Pedreiras. Levaram-no acorrentado numa embarcação através do rio Mearim, com destino a São Luís. No entanto, o revoltoso Cristino, de alguma maneira, conseguiu desvencilhar-se dos grilhões e submergir nas águas que, por serem turvas, dificultaram a mira dos fuzis. Dispararam inúmeros tiros no intuito de atingi-lo e levá-lo ainda que morto. Nenhuma mancha de sangue e nenhum corpo, porém, viu-se boiar à superfície do Mearim.

Contudo, numa outra ocasião, Cristino não teve a mesma sorte e foi pego. Silvino Gomes, primo do aludido revoltoso, contava que, enquanto recolhiam-no à cela onde permaneceria por tempo indeterminado, passava uma freira, já encurvada pelos anos, que viera talvez interceder em favor de alguma alma arrependida. Cristino, reconhecendo aquela religiosa, confidenciou ao carcereiro: - “Aquela freira foi minha professora em Barra do Corda”.

Este, intrigado, foi procurar saber à freira se o referido era ou não verdade. A madre então interpelou o guarda do cárcere sobre o nome do presidiário, o qual, ignorando-o, dirigiu-se outra vez à cela. – “Diga a ela que sou o Cristino Gomes da Silva”. Ela então lembrou-se de quem se tratava. Como poderia esquecer-se daquele que há alguns anos fora seu mais aplicado aluno? Uma rara inteligência saída das brenhas do sertão e que agora encontrava-se retida atrás de grades frias e paredes implacáveis. Sensibilizada, a freira brigou na Justiça até conseguir a soltura do revoltoso Cristino. Depois disso nunca mais se ouviu falar em seu nome. Deoclides, seu irmão, foi fuzilado na Bolívia, por ocasião da dissolução da Coluna.

  

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