EFREN ROLAND – UMA INTELIGÊNCIA PRECOCE
“Quero que gravem sobre a minha tumba,
em letras claras, sobre a laje fria,
para que nunca nos mortais sucumba
a lembrança do meu passar na terra:
– Pelo Bem lutou ele cada dia,
e ao Mal moveu eterna e crua guerra!”
E. R.
De
sua infância em Barra do Corda, transcrevemos o que sobre ele escreveu o amigo
de infância e também poeta Nicanor Azevedo, no jornal “O Imparcial”, de 10 de fevereiro de 1931:
“Há
cerca de dez anos, em Barra do Corda, em um instituto secundário, onde
estudávamos, apenas oito alunos, os mais adiantados da localidade, o Efren
apresentou, em certa aula de História, uma prova escrita que despertou esta
observação do professor: – ‘O pai deste
menino não devia deixá-lo ficar aqui.’ Foi o modo mais sutil que o professor
encontrara para elogiar o aluno, sem que os outros se molestassem... Realmente
seria lastimável que ficasse a se estiolar, na estreiteza de uma cidade sertaneja,
aquela inteligência tão promissora. Apenas dois dos oito alunos que, naquele
tempo, cursavam o instituto do Dr. Lyra[1],
na Barra do Corda, permanecem lá. Os outros foram compelidos a afastar-se de
sua terra para a conquista de mais amplos ideais. E dentre estes, se destacara
logo, pelo arrojo de suas investidas e pela rapidez com que triunfava, o jovem
que, no dizer do professor, não devia ficar na roça, e, por isso, o pai fizera
sacrifícios para o mandar educar num grande centro”.
Todas as referências biográficas esconsas apontam que Efren Roland “nasceu no Maranhão, em 1904”. Considerando, porém, que, de 1897 a 1905, seu pai, Luiz Roland, exercia o magistério na Vila de Cajapió, o poeta provavelmente nascera ali, ainda que apenas o nascimento do primogênito, Raimundo, fora noticiado nos jornais[2]. De qualquer maneira, o pai o fizera estudar em São Luís e lá vai unir-se aos movimentos estudantis, fundando, em 29 de setembro de 1922, o Grêmio Estudantil Coelho Neto, sediado no prédio da Faculdade de Direito, onde é aclamado presidente[3]. No mesmo ano, conclui, depois de prestar exames parcelados no Liceu Maranhense, o curso de humanidades. Segue depois para o Rio de Janeiro, onde cursa, com brilhantismo, a Escola Militar. Em 1927, aspirante. Em 1929, segundo tenente e fiscal do Forte de Óbidos, no Pará.
Já ocupando posição de destaque no comando
das tropas revolucionárias no Estado do Amazonas, em outubro de 1930, Efren é inteirado
por seu pai da situação em que se encontrava Barra do Corda após a invasão das tropas
revolucionárias lideradas pelo audacioso Euclides Maranhão. Efren então aciona o 24º BC, com sede em São Luís, que envia o Ten. Natal Teixeira Mendes,
já previamente nomeado pelo Interventor Federal para estar à frente do
Executivo em Barra do Corda e manter inviolados os “alevantados” ideais da
Revolução.
Estabelecidos
o movimento revolucionário, exercia importante missão em Manaus, quando foi
acometido pela moléstia que precocemente o vitimou. Faleceu no dia 10 de
janeiro de 1931, em Belém do Pará.
Nicanor
Azevedo, que lhe estudou o espólio intelectual, afirma que Efren “soube disciplinar-se nos cilícios da Arte”.
“Poeta de um lirismo amoroso e enternecedor”, “apesar de haver deixado em quase
todos os seus versos o reflexo de uma profunda mágoa, que lhe entristeceu a
vida, soube cantar a morte com altivez”.
Há poemas que apresentam uma dicção diferenciada, com
metros por vezes quebrados, mais livres, vislumbrando já uma ruptura, pelo
menos em termos formais, que nos teria dado, se mais tivesse vivido, o primeiro
poeta moderno do Panteon barra-cordense.
Efren Roland é patrono da cadeira nº 36, da
Academia Barra-Cordense de Letras, fundada pelo Desembargador aposentado Augusto
Galba Falcão Maranhão, seu atual ocupante.
Alguns dos seus poemas:
TAPERA
Ao pé dum alto monte erguia-se uma tapera
num solitário recanto,
onde só era ouvido o pranto
das águas murmurantes
dum regato que perto deslizava,
manso e tranquilo...
Também duma cigarra o canto era
ouvido, quando nuvens comburentes,
à tarde, o céu rubro faziam...
À noite o grilo
cantava
toadas estridentes...
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NAUFRÁGIO
Singra a galera, as velas adejando
ao vento, o mar que Bóreas estremece
e agita, em ondas doidas, bravejando...
O vento sopra e a vela se intumesce.
E velozmente corre a nau, nadando...
O bulcão, com fragor horrendo, cresce
em fúria louca. As vagas espumando,
bramam. A marinhagem sobe e desce
pelas cordas do mastro que, afinal,
partido, tomba. Ainda num momento,
ei-la lutando contra o vendaval.
É negro, todo negro, o firmamento.
Boiando passam corpos hirtos, frios,
causando medo, espantos e arrepios.”
(De “O Imparcial”, S. Luís, 10/2/1931)
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