O DR. JOSÉ LUCAS MOURÃO RANGEL EM BARRA DO CORDA

 





“Por um descuido lamentável, segundo se depreende dos termos lacônicos da lutuosa notícia telegráfica, a desventurada criança foi ter-se, sozinha, à margem do Corda, sendo tragada pelas águas desse rio, onde pereceu afogada”.

                     Pacotilha, 03.01.1930

 

 

“Barra do Corda deu-nos quatro anos de vida feliz e sem incidentes, salvo a morte por afogamento, com 20 meses de idade, do 7º filho do Dr. Mourão Rangel, Dirceu Carmelo”, rememora Inácio Rangel, o primogênito.  A perda precoce do filho marcou profundamente o magistrado e poeta, fato notificado nos jornais da província e também em O Norte, que, segundo Inácio, “foi-lhe campo para a verve poética”. Diz-se que compunha versos desde que conheceu Maria do Carmo, sua prima em segundo grau, na Paraíba, com quem mais tarde viria a se casar.

Da linhagem de antigos magistrados imperiais, José Lucas Mourão Rangel, nascido em Mirador, no dia 17 de abril de 1885, vai cursar Direito no Recife, concluindo-o, porém, na Bahia. E é na vila natal que primeiro exercerá a magistratura, como promotor público. Por ter sido um magistrado esclarecido e de ilibada reputação, opunha-se constantemente ao governo, o que lhe rendeu constrangimentos, recebendo nomeações para comarcas pequenas e problemáticas, onde muitas vezes não havia escolas para seus filhos estudarem. Desponta então o educador que, feito preceptor dos próprios filhos, paralelamente à sua judicatura, sairá pelo interior do Maranhão fundando e dirigindo escolas de primeiras letras. Juiz na Capital, nos anos 30, lecionou Processo Penal na Faculdade de Direito do Maranhão.

Chega em Barra do Corda numa das fases mais conflituosas por que já passou a Comarca, sendo que a mais polêmica e inovadora de suas ações, enquanto Juiz de Direito, foi ter concedido, no dia 8 de outubro de 1929, alistamento eleitoral à primeira mulher, no Maranhão, e provavelmente, no Brasil, a professora Eulina Queiroz Moreira, o que provocou grande alvoroço por parte das autoridades locais, entre as quais Marcelino de Miranda e Pedro Braga, que recorreram.

Foi pai de Inácio de Mourão Rangel, tido pelo economista Bresser Pereira e pelo geógrafo Elias Jabbour como o mais original analista do desenvolvimento econômico brasileiro.

Não legou-nos nenhuma obra autoral. Sua produção, vasta e diversa, encontra-se esparsa nos jornais e revistas de sua assídua colaboração na imprensa, mormente em “O Norte”, referido acima, e “O Combate”, de São Luís.

“Católico militante, sentiu aproximar-se a morte sem vãos temores do outro mundo, nem ilusões”. “Morreu jovem, aos 59 anos, corajosamente, como vivera”.

O Dr. Mourão Rangel marca sua passagem por Barra do Corda como “um dos quatro maiores e mais conceituados Juízes da Comarca em todos os tempos”, como muito bem afirmou o historiador Galeno Edgar Brandes.

José Lucas Mourão Rangel é patrono da cadeira nº 23 da Academia Barra-Cordense de Letras, fundada e ocupada pelo Des. Josemar Lopes Santos.

Aqui está o poema escrito por Mourão Rangel no dia seguinte ao da trágica morte do pequeno Dirceu Carmelo:


DIRCEU CARMELO

 

Tu partes, meu filhinho, e aqui nos deixas

Na dor, na grande dor, na dor sem par

De nunca mais ouvir a tua voz,

De nunca mais fitar o teu olhar!

 

Não vês que, tu partindo, nós ficamos

Chorando sem consolo noite e dia?

Chamando por teu nome a todo instante,

Como ao tempo em que a vida te sorria?

 

Nunca mais ouviremos a tua fala.

Nunca mais chamarás o teu papá.

Nunca mais tua mãe, tão carinhosa,

Chamá-la docemente te ouvirá.

 

Parte pois, Deus te quer. Ele te chama.

Mas na Corte Celeste, entre os anjinhos,

Com os quais viverás rindo e cantando,

Roga a Deus que proteja teus maninhos.

 

(Jornal O Norte/Barra do Corda, 4.1.1930)

 

 

 

 


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