ITINERÁRIO BIOGRÁFICO DE MARANHÃO SOBRINHO
JOSÉ AMÉRICO AUGUSTO OLÍMPIO CAVALCANTE DE ALBUQUERQUE MARANHÃO SOBRINHO nasceu em Barra do Corda/MA, no dia 20 de dezembro de 1879. Filho de Vicente de Albuquerque Maranhão Filho e D. Joaquina Olímpio de Almeida, frequentou irregularmente o Colégio Popular “Santa Cruz”, de propriedade do Dr. Isaac Martins, concluindo o primário em 1891, sob a tutela do prof. Manoel Raimundo Nonato de Miranda, o mesmo que fundou, com José Ribeiro Fialho, o jornal “Campeão” que, em 1892, tornou-se o primeiro periódico barra-cordense a veicular os poemas de jornais locais, como O Norte, O Guarany e O Porvir, este último de sua propriedade e redação. Além desses, a revista Elegante e o Diário do Maranhão, ambos de São Luís.
Era, segundo o descreveu o acadêmico Assis Garrido, branco, de pequena estatura e ombros largos. Os cabelos, finos e longos, despenteados ao vento, dava-lhe um ar rimbaudiano. O falar tinha-o ligeiramente fanho. Por trás do comprido nome, Maranhão Sobrinho escondia uma personalidade tímida e esquiva. A condição precária em que vivia impedia-o de trajar-se com esmero, porquanto quase sempre era visto em roupas mui surradas e um chapéu de palha o tempo todo debaixo do braço. O que mais chamava a atenção, porém, era a gravata. O laço, frouxo e bojudo, emprestava-lhe, à revelia, o destaque que a anatomia lhe negara.
Exauridas todas as possibilidades de aquisição do conhecimento que sua aldeia poderia oferecer, e após o término infausto de sua aventura amorosa com Honorina Fernandes de Miranda, transfere-se para a capital maranhense no dia 30 de agosto de 1900, hospedando-se na casa comercial Maia, Sobrinhos & Cia. Posteriormente, passa a residir em outros bairros afastados, como Maioba e Cutim.
Sua chegada coincide com a passagem, por aquelas plagas, de Coelho Neto, a partir da qual se desencadearia uma reação, efetiva e efêmera, à letargia literária que carcomia as estruturas da outrora imponente Atenas Brasileira.
Imediatamente integra-se à vida cultural de São Luís, participando das conferências literárias do Centro Caixeiral, que resultaria na fundação, a 28 de julho de 1900, da Oficina dos Novos, de cuja diretoria fora eleito 2º Secretário e Bibliotecário. Passa a colaborar com vários órgãos dessa sociedade, entre os quais A Atualidade, Os Novos e a Revista do Norte.
Após exame de admissão realizado a 19 de janeiro de 1901, e comprovar perante o então governador do Estado, o Sr. João Gualberto Torreão da Costa, que não possuía condições de subsistência nem residência fixa em São Luís, é matriculado na categoria “pensionista” da Escola Normal, passando a receber benefício do Estado sob a obrigação de indenizá-lo a partir do segundo ano de exercício do magistério. Ainda em 1901, Maranhão Sobrinho é orador do Grêmio Estudantal, realizando recitais e palestras de interesse público, por vezes no Teatro São Luís, atual Artur Azevedo. No entanto, desgostando-se pelo recorrente atraso no repasse do auxílio, e após ter-se indisposto com um de seus professores, abandona o curso no ano seguinte. A partir daí dedica-se inteiramente à Poesia, tornando-se assíduo frequentador das quitandas, bordéis e bares esconsos. Era então nesses lugares que muitas vezes compunha seus versos, de improviso e sem quaisquer emendas, postando-os sob o copo vazio, em pagamento do conteúdo etílico.
Em 3 de abril de 1902, é eleito 1º Secretário da Oficina dos Novos, secundado por Clóvis Vieira. Em 15 de maio do mesmo ano, submete-se a uma intervenção cirúrgica para a remoção de um “cisto cebáceo” que tinha na face direita. O Dr. Miguel Rossi foi o médico que o operou.
Em 1903, a convite de Fraga de Castro, transfere-se para a capital paraense, por ocasião da fundação, em Belém, do Notícias. Ao lado de Luís Berreiros e Alcides Bahia, então diretor, formou a redação do jornal, em cujo prédio, à travessa Campos Sales, passou a residir, em companhia de Carlos Cintra. O exercício do jornalismo político combativo despertou a animosidade do Governo, que decretou o empastelamento do periódico.
Com os mesmos companheiros e mais Camerino Rocha, redige o jornal O Patriota, de propriedade de Veiga Cabral, fundado em 20 de setembro de 1903. Em 1º de março de 1905, é feito secretário do jornal, que adota o lema: “Do povo, para o povo e pelo povo”.
Sem proteção ou vínculo político que pudesse garantir sua integridade física diante das perseguições de que era vítima, Maranhão Sobrinho vê-se obrigado a deixar Belém e partir para o Amazonas, onde, ao chegar, fez logo parte da redação do Jornal do Comércio, cujo diretor, o amigo Alcides Bahia, entregou-lhe a responsabilidade de cuidar da parte literária do diário. Em 1908 passa a colaborar com a revista literária Paladium, órgão do Ateneu Literário do Amazonas.
O Jornal do Comércio, em sua edição de 1º de abril de 1908, anuncia o casamento do poeta com uma “senhorita de boa família amazonense”. Ao que tudo indica, esse enlace pouco durou, visto que em menos de seis meses ele deixa Manaus, sozinho, e, depois disso, não encontramos com ele nenhum registro de acompanhante feminino.
Ausente de São Luís em 10 de agosto de 1908, data da fundação da Academia Maranhense de Letras, Maranhão Sobrinho não figurou, como provavelmente teria acontecido, entre os fundadores da referida instituição. Foi, porém, eleito posteriormente – a 28 de abril de 1909 – para a Cadeira 19, patroneada por Teófilo Dias, e, por força de disposição estatutária, considerado membro fundador da Academia.
A bordo do paquete Ceará, retorna a São Luís em 15 de setembro de 1908, residindo, desta vez, “até a partida definitiva para Manaus, na república da Rua da Paz, canto da Travessa da Passagem, nº 11, agora 180”. Aí divide o mesmo quarto com Corrêa de Araújo, com quem passa a colaborar em vários jornais, entre os quais a Pacotilha e Diário do Maranhão.
Funda, em 5 de novembro do mesmo ano, o Apostolado Cruz e Sousa, agremiação que visava a glorificação do afamado poeta simbolista brasileiro. Entretanto, por causa da cultura ainda vigente, infensa aos pressupostos simbolistas, e, não obtendo adesão expressiva para a sua efetiva ascenção, principalmente a de Antônio Lobo, Domingos Barbosa e Vieira da Silva, o Apostolado não logrou êxito.
Frustradas, pela enésima vez, as tentativas de estabelecer-se no Rio de Janeiro, onde pretendia lançar sua obra de estreia, resolve reunir algumas de suas produções poéticas esparsas em jornais e revistas, enfeixando-as sob o título de “Papéis Velhos, roídos pela traça do Símbolo”. Segundo informe do Diário do Maranhão, de 10 de junho de 1909, o livro, até àquela data, ainda não havia sido publicado:
“Está a entrar para a sessão de brochura das oficinas desta folha o livro de versos do brilhante poeta Maranhão Sobrinho, sob o título de ‘Papéis velhos’. Dentro da semana vindoura essa obra será exposta à venda nesta cidade.”
De fato, o livro Estatuetas saiu na frente, pela ordem de publicação, em 11 de junho de 1909, secundado por Papéis Velhos, que sairá a lume somente em 25 de dezembro do mesmo ano. Para Maranhão Sobrinho, porém, é com os Papéis Velhos que se dá a sua estreia literária.
Em 14 de janeiro de 1910, embarca novamente no vapor Ceará e dá seu último adeus ao Maranhão, rumo a Belém, “onde demorar-se-á algum tempo” trabalhando na Folha do Norte. No dia 3 de abril daquele ano, é agredido com socos pelo Sr. Paulo Maranhão, secretário da Folha, quando entrava no prédio da redação. Este fatídico incidente teve repercussão nacional.
A bordo do vapor “Bahia”, chega a Manaus no dia 7 de outubro, e, no dia 12, entra para a corporação redacional do Correio do Norte. Por esse tempo, tem poemas seus – a exemplo de Serenata – musicados e gravados pelo reconhecido musicista Alexandre Rayol. Em 20 de julho de 1911, inicia na imprensa uma campanha para mobilizar os parlamentos do Brasil e Portugal, para se tornarem feriados os dias 15 de novembro, neste, e 5 de outubro, naquele país, em reconhecimento público ao nascimento da República.
Em 6 de agosto de 1911, lança seu último livro de poemas: Vitórias-Régias, impresso nas oficinas da Livraria Comercial do Sr. J. R. de Melo e editado pelo Sr. Carlos Portal. Em outubro do mesmo ano, envolve-se em grave polêmica com Dejard de Mendonça, ex-colega de república, que usa as colunas dos jornais para execrá-lo. A polêmica tem início a partir da publicação, na Folha do Amazonas, de uma nota de cobrança supostamente atribuída a Maranhão Sobrinho.
Na noite de 13 de outubro de 1913, Maranhão Sobrinho é espancado por agentes policiais que supunham tratar-se do culpado de publicar anonimamente uma injuriosa quadra no Correio do Norte. Thaumaturgo Vaz, alvo da afronta, ferido em seus brios, arquiteta uma vingança particular. Como era mui amigo do chefe de polícia, solicitou-lhe alguns homens a fim de darem uma lição no petulante versejador, já que acabara de receber informações sobre o seu paradeiro. Maranhão Sobrinho, alheio ao que se passava, hospeda-se com sua amada no quarto em que na véspera fora visto o seu amigo Nunes Pereira, o verdadeiro culpado. Os policiais, em lá chegando, caíram vorazes sobre aquele que supunham ser o autor da malfadada quadra, dando-lhe baita surra e atirando-o na prisão. O nosso poeta, assim, acabou pagando por um “crime” que não cometera.
Depois da humilhação pública que sofrera, sua vida nunca mais foi a mesma. Não frequentava mais os lugares habituais em que discutia literatura e política. Seus últimos dois anos foram quase de completo isolamento em seu casebre de barro coberto de zinco, à Avenida Urucará, bairro Cachoeirinha, subúrbio de Manaus, onde raramente era visitado.
Maranhão Sobrinho faleceu às três da manhã do dia 25 de dezembro de 1915. O enterro aconteceu à tarde do mesmo dia, no Cemitério São João Batista.
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